16.11.09

Quarta-feira ou Trufas

E naquela manhã, o menino acordara pouco antes que o sol... Estava apreensivo, nervoso... Preocupado. Sentia que deveria tomar uma decisão importante, mas precisava fazê-la da melhor maneira possível... Seu bailarino merecia isso, eles mereciam isso... Pousou seus braços no parapeito, apoiando o peso do corpo, e começou a ver o dia nascer da janela de seu quarto... Fazia exatamente três semanas desde que ele e seu bailarino tinham trocado aquele beijo, o beijo que mudaria sua vida para sempre, o beijo que estiveram presente em seus pensamentos durante todo aquele tempo, o beijo que tornara sua face rubra e que fazia suas mãos suarem...
Absorto em seus pensamentos o menino não vira o sol sair tímido detrás dos prédios, e brilhar forte por sob as nuvens. O menino não percebera o avião que passara baixinho num vôo rasante... O menino também na vira o jornal sendo entregue na portaria de seu prédio, não vira uma andorinha pousar ao seu lado na janela e perdera também o sino da igreja tocando na pracinha perto de sua casa...
Pensava o menino, nessas três semanas que se passaram, e que foram as mais felizes de sua vida. Como pode tanta coisa mudar em, tão pouco tempo? As aulas de dança se tornaram mais interessantes, o caminho de volta para casa se tornou mais divertido, as conversas pelo celular duravam horas, a carência que sentia foi substituída por muito carinho... Eram mensagens de celular, ligações, abraços, palavras doces, pelo visto eles se completavam e um refletia a felicidade do outro, o menino não cabia mais em si de tanta felicidade, e assim também estava o bailarino.
Depois de um tempo que pareceu ser razoavelmente longo, o menino percebeu que precisava decidir logo como pediria. Não podia ser de qualquer jeito, precisava ser especial, já que tudo tinha sido tão especial até aquele momento... Flores, cartões, pelúcia, sussurros, encontro, presente...
A dúvida chegava a doer em seu peito, seu bailarino merecia algo diferente...
Atrasado, o menino foi para suas atividades matinais, mesmo pensando sempre em seu bailarino, e em como realizar seu pedido de um jeito diferente...


À noite, mais uma vez arrumou-se mais que o necessário e foi para sua aula de dança, levou tudo preparado para seu pedido, era uma noite anuviada, a lua estava cheia e muito grande, clima perfeito para o pedido que o menino iria fazer.
Fora para sua aula nervoso, ansioso, com medo de algo negativo, afinal de contas, o menino apesar do exterior alegre, animado, tinha alguns problemas sérios de auto-estima, mas era mais que certo que ele amava seu bailarino.
Amava...
Ama...
Amor...
Ele ama seu bailarino.

Ao fim da aula, chamou seu bailarino àquele mesmo banco que outrora se conheceram, e lhe oferecera uma trufa recheada, recheada com um bilhete, com um pedido de namoro... Ao morder sua trufa, o bailarino ficou sem ação, não acreditava no que via, tirou o bilhete, abriu, leu, releu, releu novamente, uma lágrima quente corria de seus olhos em direção ao chão, os lábios tremiam, um sorriso foi abafado.
A resposta veio num sussurro, o menino tremia, não entendeu a primeira vez, mas não precisou pedir para repetir, o bailarino repetiu uma vez, e outra e outra e outra... A euforia e felicidade em sua voz o delataram e o menino descobriu naquele momento que não amava sozinho, descobriu que era amado também!
Eles abraçaram-se, trocaram um longo beijo, e a partir daquele dia podiam dizer que além de se amarem, eram namorados.
Sorridentes, levantaram-se e foram embora juntos, não tentando disfarçar a felicidade que emanava de seus corações e que gritava para todos ouvirem o amor que sentiam.